Alumni em destaque: Duilia de Mello

 

A atual professora titular de Física e Astronomia da Universidade Católica de Washington (da qual já foi vice-reitora) e pesquisadora associada do Goddard Space Flight Center da NASA, Duilia de Mello, concluiu seu Doutorado na USP em 1995, após se graduar em Astronomia na UFRJ. Hoje, é um dos nomes mais conhecidos da ciência brasileira no Exterior.

A astrônoma já escreveu mais de 100 artigos científicos e possui dois livros publicados, entre suas descobertas está a maior galáxia espiral conhecida, a NGC6872. Em 2013, Duilia foi escolhida como uma das 10 mulheres que mudam o Brasil, pelo Bernard College/Columbia University e, no ano seguinte, foi escolhida pela Revista Época como uma das 100 pessoas mais influentes do país

A Equipe do Alumni USP traz para você a entrevista com essa ex-aluna da Universidade.

 

 Porque você quis estudar Astronomia? Quais dificuldades enfrentou?

Eu era uma criança muito curiosa, fascinada pelo universo. Decidi que estudaria astronomia para entender tudo sobre o assunto.

A maior dificuldade que tive foi o “longo caminho”.  A carreira acadêmica requer, além do bacharelado, mestrado e doutorado. Sempre fui bolsista, mas os valores pagos pelo governo eram (e ainda são) baixos, isso dificulta muito. O emprego também é uma incerteza constante, mesmo depois de tantos anos de dedicação, nunca sabemos o que nos espera no mercado de trabalho.

 

Porque a senhora quis fazer o seu doutorado na USP? Como foi essa época? 

Durante o meu mestrado no INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), minha orientadora, Dra. Zulema Abraham, se mudou para a USP e levou seus estudantes consigo.

Eu defendi o mestrado em radioastronomia no INPE e entrei direto para o doutorado na USP. Passei também alguns anos na Universidade do Alabama (AL – Estados Unidos), fiz outro mestrado lá. Mas a vida é cheia de imprevistos e, no final, voltei para o Brasil e terminei a minha tese de doutorado na USP.

 

Qual foi a importância da USP em sua vida?

O curso da USP é o melhor do país e os professores realizam pesquisas de excelente nível. A base acadêmica que a Universidade me ofereceu com certeza contribuiu muito para minha formação como pesquisadora.

 

 

Em sua opinião, qual o principal ponto positivo do doutorado da Universidade?

A pesquisa feita na USP é competitiva e isso me preparou para o mercado internacional.

 

A senhora imaginava que chegaria a ser pesquisadora da NASA?

Não imaginava. Achava que seguiria a carreira como a maioria dos pesquisadores brasileiros: faria pós-doutorado e depois passaria em algum concurso.

No final dos anos 90, fiquei muito decepcionada com o caminho que o Brasil estava seguindo, não havia apoio para a ciência. Então a vida me apresentou oportunidades e eu resolvi aproveitá-las. Fiz ótimas conexões durante as minhas viagens e participações em congressos e utilizei esses contatos para buscar outras possibilidades.

 

Quais são os projetos que a senhora desenvolve hoje?

Atualmente, utilizo principalmente o telescópio espacial Hubble, para entender a formação e evolução das galáxias. A equipe da qual faço parte tira fotos das profundezas do universo e nós tentamos entender como a Via Láctea se formou.

Durante muitos anos, colaborei também com a professora da USP, Dra. Claudia Mendes de Oliveira. Temos muitos artigos publicados juntas e fizemos uma descoberta super importante, que foi tema de dois doutorados na Universidade. Nós duas utilizamos vários satélites e telescópios para detectar populações estelares que nascem do lado de fora das galáxias que estão em processo de colisão. Estas estrelas contribuem para o enriquecimento químico do universo.

 

O que poderia ser feito no Brasil para incentivar a pesquisa? 

Precisamos de mais cursos de astronomia espalhados pelo país.  Muitas vezes o estudante não quer seguir a física pura, já quer fazer astronomia na graduação, mas existem poucas universidades que oferecem esta opção. A criação de mais cursos de astronomia aumentaria o mercado de trabalho e criaria mais oportunidades.

 

Dos prêmios que a senhora já ganhou e rankings dos quais já participou, algum deles foi mais importante e/ou significativo para você? 

Em 2014 ganhei o prêmio de Profissional do Ano da Diáspora do Brasil, que simboliza o reconhecimento aos cidadãos brasileiros que vivem fora do país e possuem destaque nas áreas de ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo. A cerimônia de entrega no Palácio Itamaraty (Brasília – DF) foi muito emocionante e inesquecível. Pela primeira vez o Brasil reconheceu o trabalho dos cientistas e, para mim, foi como uma volta ao lar.

 

Qual sua melhor lembrança na Universidade de São Paulo?

Quando fui pela primeira vez observar no Laboratório Nacional de Astrofísica, com meu orientador do doutorado, Dr. Ronaldo de Souza. Com ele, aprendi a verificar e interpretar os dados. Lembro muito desse momento.