Alumni em destaque: Katia Rubio

A professora da EEFE-USP coordena pesquisa inédita sobre atletas olímpicos brasileiros

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A Professora Katia Rubio é docente associada da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) e, atualmente, coordena o Grupo de Estudos Olímpicos. Ela, entretanto, não começou sua carreira profissional nesse meio. Sua primeira graduação foi em jornalismo. “Eu comecei a trabalhar como jornalista nos anos 80. Naquela década, aconteceu uma grande crise econômica e a recessão me levou à publicidade”, conta. O trabalho com propaganda foi bem sucedido e Katia, além de ter trabalhado em importantes empresas do ramo, recebeu prêmios e montou sua própria agência.

Após a implantação do Plano Collor e as consequentes dificuldades financeira, ela tomou a difícil decisão de voltar a estudar. Dessa vez, optou pelo curso de psicologia. Essa escolha foi motivada por dois fatores: seu contato com a área e a vontade pelo novo:  “Eu passava por processo psicoterápico e a terapia me ajudou muito a tomar decisões, porque reiniciar uma carreira profissional aos 28 anos não é fácil. E eu também achei legal ver que a psicologia era uma coisa diferente, com a qual eu não estava acostumada”.

Mas foi apenas em seu mestrado na EEFE que a professora chegou à USP. O interesse pela Educação Física foi constante em sua vida. “Eu pratiquei esporte a minha vida inteira. Antes de ser jornalista, eu tinha ideia de fazer Educação Física, mas não passei no vestibular”. Em seu segundo ano de psicologia da Pontifícia Universidade  Católica de São Paulo (PUC-SP), descobriu sobre um tópico que despertou seu interesse. “A professora de estatística tinha ido aos jogos olímpicos de 1992 e feito a estatística da seleção masculina de vôlei, que tinha ganhado a medalha olímpica. Ela chegou animada na aula falando sobre isso e foi aí que eu ouvi, pela primeira vez na vida, que existia uma coisa chamada psicologia do esporte”

Em suas procuras sobre o tema, Rubio chegou na biblioteca da Escola de Educação Física e Esporte, que possuía títulos referentes à psicologia do esporte. Isso, somado ao status de excelência da Universidade, fizeram com que a USP fosse escolhida como instituição onde Katia faria seu mestrado. Anos mais tarde, realizou seu doutorado na Faculdade de Educação (FE-USP). Dele, veio um de seus mais aclamados trabalhos: o livro “O atleta e o mito do herói”. “Eu queria ampliar a leitura do fenômeno esportivo para uma psicologia mais social e, no mestrado, fiz uma disciplina com o professor José Carlos de Paula Carvalho  da Faculdade de Educação, que trabalhava com a teoria das estruturas antropológicas do imaginário. Por essa teoria, eu consegui fazer a leitura do atleta como um ser social que carrega um papel social. Ele é  mundialmente conhecido como um herói, que, independente da cultura, é tido como um ser do sacrifício, que se imortaliza pelo que executou. Foi um trabalho inédito, tanto que ele é ainda hoje a minha produção de maior impacto.”, conta a professora.

Foto: EEFE-USP

Sobre sua escolha em seguir uma carreira no ensino universitário, ela comenta sobre a influência de uma de suas brincadeiras de infância: “Eu acredito que isso veio de quando eu era criança e brincava de professora. Fui professora de catecismo, de esporte, de muita coisa ao longo da minha vida”. Rubio também fala sobre a importância de ser docente. “A docência não é um ‘eu dou o meu saber para outros’. É uma relação de troca e uma das minhas maiores satisfações”.

Em relação aos seus feitos como pesquisadora, Katia considera “Memórias olímpicas por atletas olímpicos brasileiros”, realizado através do Grupo de Estudos Olímpicos da EEFE, o maior deles. “Essa pesquisa começou quando eu terminei meu doutorado. Eu percebi que o atleta tinha uma importância sem igual na criação do desejo de um jovem de ser atleta e passei dois anos estudando os atletas medalhistas. Disso resultou a pergunta do porquê as mulheres, tendo iniciado a participação olímpica em 1932, só foram conquistar medalhas em 1996. Fiquei dois anos estudando apenas as mulheres olímpicas brasileiras. Com esse projeto, me dei conta que há muito mais atletas não medalhistas do que medalhistas. Então, era hora de a gente buscar todos os atletas brasileiros.”

No entanto, apenas 20% das entrevistas feitas com os atletas foram publicadas e compõem o livro Atletas Olímpicos Brasileiros. Essa é umas maiores insatisfações de Rubio, que diz “A minha frustração foi não ter tido os recurso necessários para fazer essa pesquisa ser maior do que ela é. Temos 1700 horas de entrevista gravadas”. Mas ela conta que não irá desistir e conseguiu uma equipe de colaboradores para atingir seu objetivo. “E continuo tentando fazer isso. Agora, temos parceria com o pessoal da Ciência da Computação de São Carlos, com o pessoal da Linguística Computacional da FFLCH e da Psicologia para transformar todo esse acervo de dados”.

Há ainda um longo caminho a percorrer: “Temos muita coisa pra fazer. A gente não imaginava que de uma pesquisa qualitativa pudesse haver tanto dado quantitativo.  O nosso grande desafio, então, é retirar dos nossos dados qualitativos os dados demográficos” Mas, no final, tudo irá valer a pena. “Nessas entrevistas, há a apresentação de muitas informações fundamentais para o entendimento do esporte olímpico brasileiro: onde esses atletas começaram a praticar esporte, com que idade, o que os levou a isso, quais foram as principais fontes de recurso, quanto tempo eles demoram entre iniciar até se tornar olímpico. É por isso que ela é uma pesquisa única. Temos a população inteira de atletas olímpicos analisadas em profundidade”

Outro importante marco de sua carreira foi a criação da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP). Tudo começou na época em que pesquisava livros sobre o tema durante a sua segunda graduação.  “Eu tive contato com a literatura que me levou a fazer o mestrado, mas que também me causou um grande descontentamento. Eu entendia que o esporte no Brasil era bastante diferente daquele que estava nos livros dos Estados Unidos e isso me impulsiona a criar a Associação Brasileira de Psicologia do Esporte”. Para ela, a inconformidade é fundamental para que as mudanças aconteçam.“Quando fazemos parte de movimentos, não acreditamos que temos o poder de mudar ou de construir coisas novas. A gente sempre acha que tem que seguir o que tá pronto. Mas foi a insatisfação em seguir modelos que levou a consolidação dessa especialidade”, completa

Texto por Nathalia Giannetti