Ex-aluna, professora do Instituto de Física, é uma das maiores doadoras do programa USP Vida

Lia Queiroz Amaral doou mais de R$ 60 mil a projeto da Universidade para financiamento de ações e pesquisas sobre a covid-19

Texto: Adriana Cruz para o Jornal da USP

Arte: Jornal da USP

“Sinto-me profundamente ligada à USP.” Há 61 anos, a professora sênior do Instituto de Física (IF), Lia Queiroz Amaral, se dedica à Universidade. Sua trajetória começou ainda como estudante, em 1959, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), instalada onde hoje funciona o Centro Universitário Maria Antonia (Ceuma).

Hoje, com 79 anos, Lia doou mais de R$ 60 mil reais ao programa USP Vida e é uma das maiores doadoras, entre as pessoas físicas, do projeto voltado para o financiamento das pesquisas e ações da Universidade no enfrentamento da pandemia da covid-19. Em pouco mais de um mês de lançamento, o programa arrecadou cerca de R$ 450 mil e teve mais de 2 mil doadores pessoas físicas.

“Não vejo soluções ‘triviais’ para o momento atual, pelo contrário, estamos numa situação de dificílima solução tanto em nível global quanto local. Nessa situação, a criação de programas na fronteira do conhecimento na USP e demais universidades é crucial”, pondera.

 

Leia, a seguir, o depoimento concedido pela professora ao Jornal da USP.

Lia Queiroz Amaral – Foto: Arquivo pessoal

“Eu sigo a trajetória da USP desde que nela ingressei, em 1959. Muita coisa mudou e devia mesmo mudar. Segui todas as mudanças no ensino, na pesquisa e no seu financiamento, como também na política. Sempre lutei pela integração das várias áreas do conhecimento científico, atuando em Física da Matéria Condensada, na interface entre a física, a química e a biologia. O tema de meu projeto atual como professora sênior é ‘Pontes entre Ciências da Natureza e Humanidades’.

Resolvi fazer minha doação ao USP Vida por motivos pessoais e profissionais, combinados neste momento. Minha vida profissional inteira transcorreu na USP e me sinto profundamente ligada a ela como Instituição desde que ingressei como estudante de Física em 1959.

Iniciei minha pesquisa científica no Instituto de Energia Atômica (atual Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – Ipen), onde fui contratada e fiz toda minha pós-graduação. Com o nascimento de minha filha, em 1972, não conseguia trabalhar em período integral. Então, pedi demissão e, em 1974, iniciei minha pesquisa no Instituto de Física, em turno completo, o que dava mais flexibilidade ao meu horário.

Tive que me reinventar, mudando o tipo de pesquisa e dando aulas de graduação na Poli. Só passei a tempo integral no IF anos depois, quando minha filha já podia ir para uma creche. Na Física, criei o Laboratório de Cristalografia e uma linha de pesquisa em colaboração com o Instituto de Química. Segui carreira e me tornei a primeira mulher a atingir o cargo de professora titular em 1991. As crises que passei na vida me fortaleceram.

Durante décadas trabalhei paralelamente em pesquisas de caráter interdisciplinar sobre evolução humana. Aposentei-me voluntariamente em 1995 e até hoje permaneço como professora sênior. Além disso, nos últimos três anos, tenho participado em atividades do Instituto de Estudos Avançados (IEA).

Dentro de minhas possibilidades financeiras, fiz agora várias doações no contexto desta pandemia. Nesta altura da vida, decidi que estava na hora de tomar essa atitude. Não vejo soluções ‘triviais’ para o momento atual, pelo contrário, estamos numa situação de dificílima solução tanto em nível global quanto local e o desenvolvimento de pesquisas na fronteira do conhecimento na USP e demais universidades é crucial.”