Alumni em destaque: Neuza Guerreiro

Na terceira idade, a diplomada no extinto curso de História Natural busca estar conectada à Universidade de São Paulo

Foto: Rodrigo Rosa

Após longos meses de espera, Neuza Guerreiro de Carvalho finalmente obteve o seu tão esperado reconhecimento como ex-aluna da Universidade de São Paulo. Desde o início do projeto Alumni USP, a egressa tentava se cadastrar sem sucesso.“Eu entrei, vi o formulário, mas não consegui passar da primeira etapa porque não tinha a opção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), só tinha uma de Ribeirão Preto. E não constava o curso que eu fiz, História Natural. Contatei a Equipe Alumni e os informei sobre isso. Mas eu tinha outras coisas pra fazer, então fui deixando. Por volta de um ano depois, tentei novamente e o formulário era o mesmo. E agora, já que com 88 anos a gente não tem mais muito tempo pela frente, resolvi ir atrás, pois me incomoda deixar pendente essa falta de uma identificação ‘uspiana’”.

Neuza ingressou na Universidade no curso de História Natural, já extinto desde 1969. “Eu sempre fui uma médica frustrada. Tive  bons professores na escola, que me incentivaram a gostar das ciências. Mas eu nem cheguei a prestar para medicina. Não achei que tinha condição e nem coragem. Prestei para História Natural, pois era a mais compatível. Na minha turma eram 23, a maioria como segunda opção. No 2º ano nós éramos 5, ficamos assim até o final do curso. O restante foi fazer novamente o vestibular para medicina”.

O edifício que abrigava a FFCL, o Palacete Jorge Street da Alameda Glete, foi demolido na década 1970. De lá só restou a famosa Figueira da Glete, pela qual Neuza, junto com muitos outros ex-colegas, nutre um carinho especial. “Até hoje eu estou brigando pela figueira. Ela continua lá, num espaço que agora é um estacionamento. Eles colocam os carros em cima das raízes das árvores e acumulam lixo embaixo da árvore. Entrei em contato com vereadores, mas eles não fazem nada. Se não tirarem o lixo, pretendo denunciar na televisão. Trata-se de uma memória importante. É o que sobrou de uma faculdade da USP”, conta.

Muitas das boas lembranças que tem da “Glete” foram transformadas em uma obra literária, que reúne as várias memórias de ex-alunos sobre o prédio da Alameda. “Em 2014 nós lançamos um livro chamado ‘A Glette, o Palacete e a Universidade de São Paulo’. Eu ‘resgatei’ 900 e poucos ex-gleteanos, indo pessoalmente e procurando os diplomas”.

Após a graduação, Neuza trabalhou como professora de Ciências durante 30 anos de sua carreira. “Lecionei no colégio Campos Salles na Lapa e tinha um projeto de ensino chamado ‘programação dinâmica de ensino das ciências’, registrado no MEC (Ministério da Educação), para grupos de 1ª a 8ª série. Os alunos tinham acesso a aparelhos desmontados para aprenderem seus mecanismos”.

Já aposentada, ela retornou a USP para o projeto da Universidade aberta à terceira idade. Depois de fazer cursos sobre os mais variados assuntos, Neuza decidiu que estava na hora de ela também transmitir o seu conhecimento para os outros. “Não estou na fase de me reinventar, e sim de aproveitar tudo o que eu sei para compartilhar com todo mundo. Não sou historiadora, mas sou pesquisadora sobre a história da cidade de São Paulo. Tenho 634 imagens desde a fundação até o último prédio que caiu no centro e sei falar sobre cada uma delas. Eu falo, em geral, para uma turma que não é nem acadêmica nem leiga. São pessoas que já têm uma formação e querem saber mais sobre outras áreas”.

Ela ainda se mantém ocupada com um blog pessoal, onde faz publicações sobre os seus diversos interesses. “É uma colcha de retalhos. Eu atualizo quando quero e sobre os assuntos que gosto. Não tenho compromisso, a não ser comigo mesma. Estou com 88 anos. Cada vez que vou num evento, só se fala nos 60+. Isso já era. Agora é 80+.”