Egressa da Faculdade de Medicina da USP, Ingred Merllin Batista de Souza desenvolve pesquisas inovadoras em reabilitação e saúde da população negra, unindo ciência, justiça social e protagonismo feminino.

Merllin de Souza. Fonte: arquivo pessoal.
Ingred Merllin Batista de Souza, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP participa como pesquisadora bolsista do programa colaborativo estabelecido entre a USP e a T.H. Chan School of Public Health, da Harvard University. Em entrevista ao Escritório Alumni USP, ela compartilhou sua história, marcada por dedicação, pertencimento e transformação.
Merllin é fisioterapeuta graduada pela Universidade Federal do Amazonas, especialista em Gerontologia e Saúde Mental, tem MBA em Gestão de Projetos pela USP/Esalq e é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP onde foi orientada pela Profa. Dra. Amélia Pasqual Marques. “Fui responsável por estudar a prevalência de dor lombar na população idosa de Manaus, como parte de um estudo multicêntrico nacional”, relembra. Atualmente, realiza seu doutorado no mesmo programa, e desenvolve um ensaio clínico afrocentrado que propõe o uso da telerreabilitação no tratamento da dor lombar crônica inespecífica em pessoas negras — tema que une saúde, equidade racial e inovação tecnológica.
Dentre as suas atividades na USP, Merllin menciona que como representante discente em diversos colegiados da FMUSP e Conselhos Centrais da Universidade ela colaborou na criação de diretrizes das ações afirmativas na pós-graduação. É cofundadora do Núcleo Ayé, primeiro coletivo negro da FMUSP em 105 anos de história, e integrante da Coligação de Coletivos Negros da USP. “Costumo dizer que existe uma Merllin antes e depois da USP. Gosto do que me tornei e me sinto honrada por estar nessa universidade.” Afirma nossa egressa.
Hoje, como doutoranda da USP em intercâmbio na Harvard University, sob orientação do Prof. Dr. David R. Williams, Merllin amplia os horizontes de sua pesquisa. “Foi na USP que aprendi a escrever, defender e compartilhar projetos acadêmicos e sociais. Isso foi essencial para que o Prof. Williams identificasse potencial no que venho desenvolvendo”, explica. Sua participação na Brazil Conference, onde atua como vice-presidente de Gente & Gestão, e encontros diplomáticos nos EUA refletem o reconhecimento e a projeção de sua atuação internacional. “Aqui, sigo colocando em prática o que aprendi na USP: ciência com propósito e inclusão.” Declara Merllin.
Seu projeto atual, que investiga a dor lombar em uma perspectiva antirracista e decolonial, tem importante impacto social. “É o brilho nos meus olhos. Pesquisar com base na realidade da população negra brasileira, considerando suas vivências, contextos sociais e barreiras no acesso à saúde, é um ato revolucionário.” A iniciativa conta com alunas negras da graduação da FMUSP como cientistas júnior, reforçando o compromisso com a formação de novas gerações. “Nós, enquanto pesquisadoras, estamos recebendo feedbacks motivadores para continuar na área em prol da melhoria do acesso e tratamento da saúde da população, que muitas vezes são marginalizadas e que a cor de sua pele, chega primeiro, antes de sua queixa dolorosa.” Afirma a doutoranda.
Merllin também usa as redes sociais como ferramenta de inspiração e engajamento. “Procuro comunicar em minhas mídias sociais, uma vida de cientista de verdade, que estuda, que atua em diferentes frentes, que se posiciona e que também mantém viva a Baby Merllin: a minha versão corajosa que me trouxe até aqui.” Sua presença online tem incentivado outras mulheres negras a acreditarem em seu potencial e a ingressarem na ciência.
Ao refletir sobre a universidade, Merllin destaca o papel transformador da USP, mas também aponta caminhos para avançar. “É preciso investir na diversidade do corpo docente, ampliar o acesso de pessoas negras e indígenas, oferecer disciplinas interseccionais e fortalecer o ensino de idiomas. A USP precisa continuar integrando a comunidade e promovendo trocas globais que reflitam as realidades da nossa América Latina.”
Com uma trajetória inspiradora que conecta ciência, pertencimento e ação social, Merllin conclui com uma frase que resume sua caminhada: “Sou uma mulher negra das barrancas do Rio Madeira, e você não imagina quantos rios eu cruzei para chegar até aqui.”
O Escritório Alumni USP agradece a egressa por socializar a sua inspiradora trajetória acadêmica e científica marcada pelo compromisso com a justiça social e o cuidado com a saúde da população negra brasileira.
Texto: Vinícius Palamarczuk Rocha