Alumni em destaque: Bernardo Boris Jorge Vargaftig

Reprodução: Jornal da USP.

Bernardo Boris Jorge Vargaftig é ex-aluno da USP e professor aposentado do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). Após cursar o primeiro ano de História Natural na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), acreditou que o melhor caminho a seguir seria prestar o vestibular novamente e estudar Medicina, o que o fez; formando-se em 1963 na FMUSP. “A USP teve muita importância na minha vida, passei mais de sete anos lá”.

Desde a adolescência Boris queria ser pesquisador, sua principal área de estudos hoje é inflamação pulmonar. Entretanto, o que realmente marcou a vida do alumni foi a atividade e engajamento político que, segundo ele, se intensificaram na Universidade. A época na qual estudou Medicina foi um período muito ímpar da história brasileira, pois precedia o Golpe de 1964.

Ele se formou durante o período de Ditadura Militar e, em julho de 64, passou 52 dias preso devido à sua atuação nos movimentos de esquerda. Após sair da cadeia, teve dificuldade para conseguir trabalhar. O Professor Doutor Oswaldo Vital Brazil, docente da Unicamp, solicitou que Boris fosse seu assistente na Faculdade de Ciências Médicas de Campinas, mas o conselho da universidade negou o pedido. Depois de ter sido recusado por outros dois empregos, decidiu ir para a França “tentar a vida”, tinha planos de desenvolver pesquisas.

Segundo ele, a vida na França “não era tão simples”. Boris não tinha dinheiro e estava procurando o seu primeiro emprego. Levou consigo recomendações de dois grandes pesquisadores brasileiros, o que fez com que conseguisse trabalhar em uma indústria farmacêutica que, por infeliz coincidência, localizava-se a 80 km do Centro Universitário de Paris, aguçando sua vontade de prosseguir com seus estudos.

Boris trabalhou nessa indústria durante 10 anos, realizando diversas pesquisas destinadas a descobrir novos medicamentos. Recebeu uma proposta para trabalhar em Estrasburgo, na fronteira entre França e Alemanha, onde residiu por mais 5 anos, até 1977, quando foi contratado como pesquisador no Instituto Pasteur (Paris). Prosseguiu sua carreira lá nos 25 anos seguintes.

Boris já era casado e tinha três filhos quando decidiu prestar o concurso para professor titular de Farmacologia no ICB (Instituto de Ciências Biomédicas), em 2012. “Fui muito bem acolhido; meu período como docente foi realmente agradável, apesar de ter passado por problemas pessoais, todos foram extremamente tolerantes comigo. Gostei muito do departamento, é conservador, mas muito simpático.”

Hoje, Bernardo Boris Jorge Vargaftig trabalha principalmente junto ao grupo de pesquisas do Professor Doutor Wothan Tavares de Lima (também docente do departamento de Farmacologia do ICB USP), participando nas reuniões, nos laboratórios, nas críticas dos manuscritos e, às vezes, como co-autor. Ele já possui mais de 400 publicações e, apesar de ter desfrutado muito seu período como professor, acredita que o período como aluno foi o que gostou mais, “tem mais vivacidade”, segundo ele. “A vida acadêmica é muito profissional, há um respeito que gelifica as relações. É claro que não dá pra comparar as duas, mas no concreto, o estudante é muito melhor!”, explica.

Após refletir, o professor conclui que o que ele mais gosta na USP são as pessoas.

 

Texto: Mariangela Castro