Ex-alunos da USP criam aparelho para smartphone que barateia exame de retina

Protótipo de retinógrafo portátil, que ficou em primeiro lugar no Falling Walls Lab São Paulo, foi desenvolvido por três egressos do campus de São Carlos da USP

Protótipo do retinógrafo portátil: projeto será apresentado em Berlim em novembro - Foto: Divulgação/Phelcom
Protótipo do retinógrafo portátil: projeto será apresentado em Berlim, em novembro – Foto: Divulgação/Phelcom

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Um aparelho que permite a realização de exames oculares de maneira prática, barata e com o uso de smartphones. Esse é o projeto desenvolvido por três ex-alunos da USP, em São Carlos, que venceu o Falling Walls Lab São Paulo, etapa classificatória da competição global que incentiva a criação de soluções de alto impacto na sociedade. José Augusto Stuchi, um dos autores do projeto, irá representar o Brasil na final da competição, que será realizada em novembro, na Alemanha. Ele é graduado em Engenharia de Computação, curso oferecido em conjunto pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).

O equipamento desenvolvido é o SRC – Smart Retinal Camera, versão portátil do retinógrafo, que é utilizado em exames de retinografia para observar e registrar fotos da retina. “Nós redesenhamos todo o projeto óptico e eletrônico e transformamos o retinógrafo em uma miniatura, podendo, assim, ser acoplado a um smartphone”, explica José Augusto. Ele conta que, apesar do sistema óptico ser reduzido, as imagens obtidas pelo aparelho têm qualidade tão boa quanto a dos aparelhos tradicionais, sem contar que o custo para sua produção é bem menor. O SRC é o primeiro protótipo de retinógrafo portátil do Brasil a utilizar smartphones para a realização de exames.

No País, mais de 6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência visual, porém, 85% dos municípios brasileiros não possuem oftalmologistas. A portabilidade e o baixo custo do SRC podem facilitar a expansão de exames e atender aqueles que não podem se deslocar aos consultórios. “Imagine que a pessoa está acamada e não consegue ir até a clínica fazer o exame. Um operador, que não precisa ser médico, pode ir até a casa do paciente e realizar todos os procedimentos. Posteriormente, essas imagens ficariam disponíveis em um site para acesso dos médicos, que dariam o diagnóstico a distância”, diz José Augusto, que hoje faz doutorado em Engenharia de Computação na Unicamp.

José Augusto Stuchi (à esquerda) e Diogo Biagi são os autores das duas ideias vencedoras da competição e representarão o Brasil na final internacional em Berlim. Em terceiro lugar, foi premiada a ideia de Giselle Coelho – Foto: Carol Santa Rosa/Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo

A facilidade para transportar o aparelho também pode possibilitar seu uso em campanhas para a realização de exames em lugares distantes e que não possuem retinógrafos. O tamanho reduzido facilita, ainda, a utilização em crianças. Elas costumam ter dificuldade em se posicionar corretamente com a testa, queixo e cabeça em frente ao aparelho convencional. “Diagnosticar desde cedo uma doença possibilita que você previna e trate o paciente para que ele não fique cego. Por ano, 500 mil crianças perdem a visão no mundo e 80% de todos os casos de cegueira do planeta são evitáveis”, afirma o pesquisador.

Segundo José Augusto, fomentar a maior distribuição de retinógrafos pelo Brasil contribuiria não somente para a realização de mais exames, mas também para estudos específicos sobre as doenças e a melhor forma de combatê-las. “Após classificarmos os tipos de patologias, poderíamos fazer um mapeamento que mostrasse qual a incidência de cada uma, assim como os locais mais afetados no País. Com isso, o governo poderia atuar de forma direta nos Estados ou regiões mais comprometidas.”

A ideia do projeto nasceu há cerca de dois anos. José Augusto Stuchi,  com o engenheiro eletricista Flavio Vieira e o físico Diego Lencione, ambos formados pela USP, em São Carlos, sempre se interessaram pela área da saúde, tanto que os três desenvolveram suas pesquisas de mestrado aplicadas à retinografia. Além da paixão por esse campo, o trio possui outra motivação: “O irmão do Diego tem um problema no olho desde criança, o que nos incentiva muito nessa missão”, relata José Augusto.

O envolvimento no projeto levou os três idealizadores a fundar, em março deste ano, a startup Phelcom, empresa focada em criar produtos inovadores, combinando soluções na área de óptica, eletrônica e computação. O desenvolvimento do retinógrafo portátil é financiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A expectativa dos pesquisadores é de que o protótipo, que ainda não foi testado em humanos, seja comercializado já no primeiro semestre de 2018.

No diagrama, está o modelo de prova de conceito que levou à criação do protótipo - Ilustração: Carol Santa Rosa/Centro Alemão de Ciência e Inovação - São Paulo
No diagrama está o modelo de prova de conceito que levou à criação do protótipo – Ilustração: Divulgação/Phelcom

Falling Walls Lab

No dia 19 de setembro, os ex-alunos da USP tiveram a oportunidade de mostrar o potencial do projeto durante a final do Falling Walls Lab São Paulo. No total, 94 projetos foram inscritos e apenas 14 selecionados para participar da final. O evento premiou as três melhores ideias com capacidade de impacto na sociedade e os participantes tiveram apenas três minutos para apresentá-las em inglês para um júri composto de membros da academia, instituições de pesquisa e gestores de grandes empresas. “Foi uma surpresa! Expectativa a gente sempre cria, mas havia projetos muito bons e a chance de ganhar era muito pequena”, conta José Augusto, que foi o responsável pela apresentação ocorrida em São Paulo, no auditório do Instituto de Física da USP.

A etapa brasileira foi classificatória para a final da competição, que ocorrerá entre os dias 8 e 9 de novembro, em Berlim, quando outros 99 vencedores de diversos países irão mostrar suas ideias. “Depois da nossa apresentação, duas pessoas já vieram falar com a gente sobre a possibilidade de uso do nosso retinógrafo para detecção e tratamento de suas patologias. Isso vale mais que o prêmio: conversar com quem tem o problema e poder ajudá-los será nossa maior recompensa”, finaliza José Augusto Stuchi.

Henrique Fontes/Assessoria de Comunicação do ICMC

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