Pesquisadoras da USP sequenciam o genoma do coronavírus

A importância de sequenciar o genoma do vírus identificado no Brasil é para que possa se desenvolver uma vacina para proteger a população da doença

 

Apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de um homem – 61 anos, que retornou recentemente da Itália – infectado em território nacional, duas pesquisadoras da Universidade de São Paulo sequenciaram o genoma do chamado coronavírus (SARS-CoV-2), o período em que os outros países descobriram a sequência do genoma do vírus em seus territórios tem sido de aproximadamente 15 dias. A própria Itália ainda não havia sequenciado o genoma que acometeu o brasileiro de 61 anos e a quem passou o vírus para ele. A partir desse sequenciamento será possível o desenvolvimento de uma vacina, tão importante para uma doença que tem uma baixa letalidade (levou a óbito 3,4% dos infectados até o dia 28/02/2020, muito abaixo da taxa do ebola, por exemplo, na casa dos 50%), porém uma alta taxa de transmissão. Com a vacina, aplica-se uma quantidade pequena de vírus nas pessoas que desenvolvem anticorpos para terem a defesa caso sejam infectadas pela doença, que é muito mais potente. Dessa maneira a pessoa protege a si própria e a dezenas de outras para as quais ela poderia passar seu quadro infeccioso da doença que recebeu o nome técnico de Covid-19.

Coronavírus sob microscópio. Foto: National Institutes of Health NIH/ Wikimedia Commons.

As pesquisadoras da USP responsáveis por esse sequenciamento são Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina (FM-USP) e diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda do IMT-USP com bolsa Fapesp. Ester coordena o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemologia de Arbovírus (Cadde) que visa possibilitar o desenvolvimento de vacinas por órgãos de serviços de saúde. Nesse projeto, Ester Sabino e sua equipe vêm monitorando vírus como o da dengue e da zika e sua ação nas Américas. Para as pesquisas em relação ao coronavírus, quem coordena a equipe de pesquisadores que o sequenciou é Jaqueline Goes de Jesus. Ela conta com o trabalho de Claudio Tavares Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz, assim todos os casos de pacientes que forem identificados com a doença terão o genoma sequenciado para que sejam observadas eventuais mutações em seu código genético.

 

Professora Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP). Ela coordena o a equipe que monitora a incidência de vírus no Brasil e nas Américas, por meio do programa internacional Cadde. Foto: Divulgação.

 

Pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus (ao centro), pós-doutoranda do IMT-USP, e a equipe do laboratório. Foto: Divulgação.

 

Em entrevista à Agência Fapesp, Ester Sabino explicou a importância desse trabalho: “Ao sequenciar o genoma do vírus, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia. Sabemos que o único caso confirmado no Brasil veio da Itália, contudo, os italianos ainda não sabem a origem do surto na região da Lombardia, pois ainda não fizeram o sequenciamento de suas amostras. Não têm ideia de quem é o paciente zero e não sabem se ele veio diretamente da China ou passou por outro país antes”.

Como especialistas da área têm alertado, enquanto a vacina não é desenvolvida, a prevenção passa principalmente pelo ato de lavar as mãos e proteger a boca em ocasião de tosses ou espirros. O contágio pode ocorrer no ar ou via secreções – portanto é importante não dirigir as mãos à boca, nariz ou olhos se elas não estiverem bem lavadas. Para ambientes onde não é possível lavá-las, recomenda-se a utilização de álcool gel. A recomendação em relação à procura por atendimento de saúde é para pacientes que apresentarem o quadro de sintomas, geralmente acompanhado por febre, e principalmente que estiveram em regiões com um grande número de casos (como China ou Itália) nos últimos 14 dias.

Demais detalhes sobre o vírus, a doença, prevenção e sintomas podem ser acessados na página do Ministério da Saúde.

 

Texto: Rodrigo Rosa