“Neurociências como instrumento de transformação social”

O renomado neurocientista ex-aluno diplomado pela USP (graduação em Medicina, 1984, e doutorado em Ciências, 1989), Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, esteve no ICB-USP no final de setembro para uma palestra sobre a relação entre neurociências e transformação social. Nicolelis compartilhou com a plateia suas experiências trazendo algumas explicações e exemplificando com situações que identificou em suas pesquisas e experimentos.

Nicolelis no programa Roda Viva em 2008. Foto: Everton Zanella Alvarenga/ Flickr.

O primeiro relato foi sobre suas pesquisas mais antigas, por exemplo, como o cérebro de seres primatas responde a estímulos visuais ou similares, para realizarem movimentos de controle de mecanismos eletrônicos. Ou seja, sua pesquisa identificou num primata a capacidade de utilizar um joystick para controlar um jogo básico de direcionamento de círculos em um monitor. Em outra experiência, um rato podia sentir reflexos em seu corpo a um estimulo de luz e se locomovia até ela. Assim como um primata também conseguiu direcionar um pequeno carrinho que dirigia para alcançar um pote de alimento no outro lado de um espaço delimitado.

Comentou que ao longo dos anos lhe perguntam por que resolveu estudar o córtex motor. Sobre essa suposta “hierarquia” das regiões do cérebro, o pesquisador opinou, mostrando dados numa planilha:

“Quando a informação é útil, ela aparece em todas as áreas do cérebro, inclusive no córtex motor, não há hierarquia, na minha opinião.”

O pesquisador apresentou também o que foi possível a partir do aperfeiçoamento dessas pesquisas de estímulo cerebral, o projeto desenvolvido com o atleta Juliano, que depois de paraplégico virou para-atleta e participou da inauguração da copa do mundo no Brasil com o chute inaugural, que permitiu até uma sensação tátil ao ter sentido o chute na bola. No estágio de sua condição ele normalmente não teria mais nenhuma sensibilidade na perna, ou era o que se pensava até o momento. Então Nicolelis explicou sobre o projeto de recuperação de algum nível de sensibilidade e um pouco da recuperação da paralisia a partir de estímulos elétricos. Mais informações sobre o projeto estão no endereço: http://aasdap.org.br/projetos/projeto-andar-de-novo

Projeto Andar de Novo link: http://aasdap.org.br/projetos/projeto-andar-de-novo

Por fim comentou sobre o “Campus do Cérebro”, do Instituto Santos Dumont de educação e pesquisa, em Macaíba – RN e criticou, emocionado, os problemas de falta de verbas investidas na área recentemente. Pois ele acredita que em todos os cantos do Brasil há jovens inteligentes querendo estudar, só falta o investimento adequado a eles.

Texto por Rodrigo Rosa