Projeto APOIAR da Psicologia (IPUSP) oferece terapia à população

APOIAR atende de crianças a idosos, além de ser importante experiência para formação dos estudantes. Diante da pandemia, o atendimento passou a ser on-line, focado em amenizar os efeitos para a saúde mental da população. Projeto convida novos voluntários para atender à alta demanda

Conheça o APOIAR, a partir de informações obtidas em conversa com a Profa. Leila Salomão Tardivo, do Instituto de Psicologia da USP, coordenadora do Projeto. Para ouvir na íntegra a entrevista realizada por telefone, ouça por meio do nosso podcast no Spotify, o Alumnicast.

 

APOIAR é um serviço inserido no Laboratório de Saúde Mental e de Psicologia Clínica Social do IP-USP. O laboratório existe há mais de 20 anos e o Apoiar foi criado no início de 2002. Foi instalado com outro grande projeto, as oficinas terapêuticas Ser e Fazer, coordenados pela Profa. Tania Vaisberg, que atualmente é consultora do Apoiar, e trabalha nos eventos anuais do serviço.

Profa. Leila Tardivo, coordenadora do Apoiar. Foto: acervo pessoal

Segundo Leila Tardivo, “O Apoiar é voltado para a formação do estudante de Psicologia e se dedica à saúde mental em sua acepção mais ampla. Nas manifestações do sofrimento psíquico. Avaliação, identificação, prevenção e intervenção do sofrimento psíquico, especialmente das camadas mais vulneráveis da população. É um grupo que está filiado ao Cnpq. Agregamos professores, como a também coordenadora Helena Rinaldi, todos os pós-graduandos e muitos voluntários. Nós realizamos os atendimentos, sempre vinculados à produção de conhecimento”. Há parcerias estabelecidas com ONGs (como a Liga Solidária), organizações governamentais (como a Secretaria de Saúde). Também foi se firmando como um espaço para desenvolvimento de estágios de atendimento, como em instituições de saúde mental, UBS, CAPS etc, e de disciplinas de pós, como a Psicopatologia II, ministrada pela própria Profa. Leila.

As pesquisas científicas de âmbito clínico são desenvolvidas a partir do atendimento de vários tipos de quadros. Crianças e adolescentes são o grupo preferencial de atendimento, quadros de vítimas de violência doméstica, auto-lesão, crianças em instituições de acolhimento. Além da execução de trabalhos de prevenção junto a escolas. O atendimento também é voltado a outras faixas etárias, como um trabalho voltado a pacientes com dor crônica em adultos e idosos, e agora o trabalho diante da pandemia, de maneira on-line.

As Jornadas

A partir dos dados e conhecimento produzido ao longo do ano, são organizadas as Jornadas. Este ano, a 18a edição, ocorrerá de maneira on-line.

“Cada ano tem mais pessoas participando, agora temos que limitar o número de inscrições. O evento segue o caráter da Universidade de ser aberto e público, mas pela limitação de espaço, pedimos inscrições e elas têm se esgotado. Cada ano tem um tema, com palestrantes que apresentam pesquisas relacionadas a eles. Sempre convidamos colegas de outras universidades e a cada ano tem estrangeiros também, alguns convidados ilustres da área. Pesquisadores de Portugal, da Espanha, Argentina, alguns de universidades que mantêm projetos conjuntos conosco”, explica Leila. “A jornada tem essa vocação também de abrir espaço pra trabalhos de pesquisadores, onde são apresentadores pôsteres científicos etc. É um espaço aberto a novos pesquisadores iniciarem nessa área de redação e apresentação de trabalhos científicos. Ano passados tivemos mais de cem pôsteres apresentados – que não precisam ser do tema da jornada, desde que sejam sobre saúde mental ou clínica social. Pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM-USP), Psicologia de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP), Escola de Enfermagem (EE-USP) também participam das jornadas”.

Diante da chegada da pandemia, tudo que estava funcionando no Laboratório teve que fechar, então foi pensado o formato do Apoiar On-line. “Inicialmente pensamos em um projeto que pudesse dar conta dos pacientes que não podiam comparecer presencialmente. Com o passar dos meses, o número de pacientes cresceu muito, temos desde pré-adolescentes até idosos e este último mês temos registrados mais de 1100 pacientes, a grande maioria continuando em atendimentos. Temos quase 300 terapeutas, ou seja, ampliamos muito a equipe de psicólogos. Nesse projeto temos apenas os terapeutas graduados, os estudantes estão em outras atividades, atenção a escolas e grupos de adolescentes e professores.”

“O apoiar online hoje é um projeto que tem uma necessidade de terapeutas pois a fila chega a centenas. A proposta é fazer atendimentos breves mas não uma consulta/ plantão – o que também é uma proposta interessante, mas o Apoiar sempre se dispôs a consultas terapêuticas de alguns atendimentos. As principais queixas, que vêm se tornando alguns casos até mais graves, são depressão, solidão, muitos casos que falam de ansiedade ou depressão com ansiedade. Alguns, em menor número, de problemas de violência doméstica. Tem começado a aparecer pacientes que perderam conhecidos, amigos ou parentes, para a covid-19. Muitas dessas demandas eclodiram – ou seja, já existiam em um grau menor mas pioraram atualmente – ou foram de fato geradas pela pandemia. Há muita depressão e irritação entre adolescentes, nessa faixa etária nos preocupa também ideações suicidas e sofrimentos psíquicos mais intensos. Para ajudar portanto a população a passar essas situações difíceis que se apresentam.”

Portanto o Apoiar solicita nesse momento a ajuda de egressos para serem voluntários nesse momento. A intenção é manter este atendimento diante da pandemia até o final do ano. O Apoiar tem 22 supervisores e oferece aos terapeutas grupos de discussão dos casos, especialmente aos terapeutas recém-formados, além de aulas pontuais de saúde mental. “Ser voluntário neste momento é um ato de solidariedade. O nosso projeto passa pelo tripé da formação, produção de conhecimento e atenção à comunidade” afirma Leila.

Para se inscrever no atendimento on-line, ou se é ex-aluno dos cursos de Psicologia da USP e gostaria de prestar os atendimentos, envie um e-mail para apoiar [at] usp [dot] br

Reportagem:  Rodrigo Rosa