Alumni em destaque: Reginaldo Prandi

O Professor Emérito tem mais de 30 livros publicados e foi um dos pioneiros no estudo científico de religiões afro-brasileiras

Foto: Luizjacomo via Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0

Reginaldo Prandi, no início de junho de 2018, recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Ele vem de uma longa trajetória na Universidade de São Paulo, onde, além de exercer o papel de docente, já foi aluno de graduação e pós-graduação. “A USP foi tudo na minha carreira”, diz o professor aposentado do Departamento de Sociologia.

Sua história na USP tem início com a Medicina Veterinária. “Eu cursava junto com Ciências Sociais, mas comecei a abandonar muitas matérias. Quando fui convidado para dar aulas na PUC (Pontifícia Universidade Católica), tranquei a matrícula dessa graduação e ela acabou ficando para trás. Eu pretendia retomar, mas surgiram muitos compromissos e isso se perdeu”. Já o seu envolvimento com a Sociologia aconteceu por acaso, devido à influência de uma parente, que resolveu fazer esse curso. “Eu morava com uma prima, no interior de São Paulo. Ela tinha essa ideia de fazer Ciências Sociais, por causa de um primo em comum, que tinha acabado de terminar essa faculdade, e me chamou pra fazer companhia no vestibular. Nós fizemos a prova e passamos. Então, eu resolvi fazer o curso junto com ela no Centro Universitário Fundação Santo André, enquanto ainda estudava Veterinária na USP”, conta.

A sua carreira como professor também não se tratou de um plano de longa data. “Foi tudo uma consequência do convite de um professor da Fundação Santo André que, quando eu estava me formando, me chamou para ser assistente dele na PUC de São Paulo. Eu fui e, depois, prestei o concurso público, passei e consegui me tornar professor da USP, onde eu fiquei praticamente a minha vida toda. Não foi uma escolha ‘vou ser professor’. Nessa época, eu ainda queria ser veterinário”.

Durante esse início do trabalho no ensino, Reginaldo desenvolvia seu mestrado na FFLCH, que seria defendido em 1974. O tema “Mensagem católica e mudança social no Brasil” estava diretamente relacionado ao seu projeto no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). “Eu tive um professor, o Cândido Procópio Ferreira de Camargo, que é praticamente um dos fundadores da Sociologia das Religiões, com quem eu trabalhava em um projeto sobre religião. A ideia era estudar como as religiões estavam ligadas às mudanças sociais. A parte da pesquisa na qual eu trabalhava mais era aquela que estudava a orientação oferecida pela Igreja Católica em relação à sociedade que se transformava e como isso mudou no decorrer de trinta anos (1940-1971). Como essa parcela estava muito avançada, eu usei os dados que eu havia coletado para fazer o mestrado. Foi uma consequência da minha inserção profissional”.

Cerimônia de Outorga do Título de Professor Emérito Foto: Victoria Golfetti (STI-FFLCH-USP)

Seu trabalho com religiões não parou por aí. Anos mais tarde, a sua tese de livre docência “Os candomblés de São Paulo” (1989) daria origem ao seu livro de maior sucesso, “Mitologia dos Orixás” (2002). “Eu fui para os Estados Unidos a fim de me especializar em pesquisa de opinião pública e colher material para fazer uma tese de livre docência sobre esse assunto. Naquela época, não tinha internet, a gente viajava para o exterior para xerocar livros, artigos e revistas. Era tudo mais difícil do que hoje. Quando eu estava voltando pro Brasil, a minha bagagem foi perdida, com tudo que eu tinha coletado dentro. Eu, então, tinha duas alternativas: voltar para os Estados Unidos e fazer tudo de novo ou falar do surgimento do Candomblé em São Paulo, já que, um pouco antes, eu tinha ajudado alguns colegas meus a processar uma pesquisa que eles fizeram sobre as origens da Umbanda em São Paulo e nós descobrimos que no meio dos registros de terreiros de Umbanda, começavam a aparecer muitos terreiros de Candomblé, que a gente nunca tinha visto na cidade. E foi a partir daí que eu comecei a trabalhar muito intensamente com as religiões afro-brasileiras. Quando eu fiz a minha pesquisa de campo em terreiro, eu escutei muitas histórias, mitos, lendas e fui registrando, transcrevendo tudo que ouvia, mas usei pouca coisa disso na tese. Mais tarde, comentando esse assunto com uma colega minha, ela falou que eu deveria aproveitar esse material pra fazer um livro. Aí eu iniciei um novo projeto de pesquisa e juntei com as informações que já tinha coletado para lançar o ‘Mitologia dos Orixás’, que é o meu best-seller”, conta.

O seu trabalho com literatura não se restringe às religiões. O Professor Emérito já escreveu, até o momento, 37 livros sobre os mais diversos assuntos, que vão de sociologia até romance policial. Um de seus destaques são as obras voltadas para o público infantojuvenil. “Aquela minha mesma colega falou que ainda faltavam livros que tratavam sobre a mitologia de religiões afro-brasileiras para crianças e sugeriu que eu escrevesse um. Aí eu escrevi o meu primeiro livro infantil, ‘Ifá, o adivinho’ (2002), que foi um grande sucesso, e comecei a fazer mais obras para crianças e adolescentes”. Ele  também afirma que nunca se sentiu obrigado a publicar um livro “Todos eles foram escritos porque algo me motivava, me levava a fazer isso”.

Outro aspecto bastante interessante da sua carreira é o seu papel na fundação do Datafolha. “Eu aprendi muito em cursos de demografia na USP, tinha feito aulas de estatística durante a graduação em Veterinária e aprendido muita coisa de computação. Em 1982, tivemos a primeira eleição para governador e eu ajudei a montar uma equipe de pesquisa de opinião. Então, um dos proprietários da Folha me chamou para fazer as pesquisas para o jornal e, com o tempo, esse núcleo que se formou constituiu em um instituto independente, apesar de ainda fazer parte da empresa”.

Em relação a projetos futuros, Reginaldo Prandi conta “Minha carreira profissional não acabou. Eu estou fazendo um livro, que trata de lendas existentes no Brasil de diversas origens, e ainda faço vários artigos científicos”, finaliza.

 

Texto por Nathalia Giannetti