USP reabrirá Museu do Ipiranga no bicentenário da Independência com o dobro da área e 12 novas exposições

Além do restauro do Edifício-Monumento, museu ganha área para exposições itinerantes; obras do acervo passaram por restauro e terão recursos de acessibilidade 

O Novo Museu do Ipiranga. Foto: Divulgação

Na lista dos acontecimentos que irão compor as celebrações do próximo 7 de setembro, um fato marcará o reencontro da população com a memória de São Paulo e do próprio país: a reabertura do Museu do Ipiranga. 

Uma das organizações históricas mais conhecidas do país, o Museu do Ipiranga é administrado pela USP desde 1963 e conta com um acervo de cerca de 450 mil itens e documentos que subsidiam atividades de ensino, pesquisa e extensão. 

Fechada desde 2013, a instituição ligada à história nacional passa pelo estágio final de uma ampla reforma que apresentará ao público um edifício restaurado e ampliado. Além do restauro do Edifício-Monumento, aquele imóvel icônico que todos conhecemos, quando as portas do Museu do Ipiranga reabrirem, a parte interna terá duplicado de tamanho. 

O edifício-monumento, tombado nas três esferas do governo, será dedicado exclusivamente à visitação pública, com acessibilidade universal e integrado ao conjunto urbanístico do Parque da Independência.

A nova área, com 6.800 m², contará com bilheteria, café, loja, auditório, espaços para atendimento educativo e uma grande sala de exposições temporárias, para receber acervos de outras instituições, brasileiras e internacionais.

O custo total da reforma é estimado em R$ 211 milhões, envolvendo investimentos privados e aportes públicos. As obras tornarão o Museu um dos mais completos e modernos museus da América Latina, com a expectativa de receber entre 900 mil e 1 milhão de visitantes por ano. 

Museu do Ipiranga – Esplanada. Foto: Divulgação

Reforma e acessibilidade

O restauro do Edifício-Monumento envolveu reparos em todos os detalhes da arquitetura, incluindo os 7.600 m² das fachadas, que pela primeira vez passaram por limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos, aplicação de argamassa e tratamento de trincas. Para a pintura, foi utilizada uma tinta mineral – desenvolvida especialmente para o Museu – que permite a troca de umidade entre o prédio de cal e o ambiente. Um estudo estratigráfico (ramo da geologia que estuda as camadas de rochas) e o processo de decapagem também tornaram possível recuperar a cor original da construção. 

Diversos itens receberam tratamento meticuloso ou passaram por mudanças relevantes. Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados e restaurados, bem como os 1.900 m² de assoalhos que revestem os pisos. O prédio recebeu novos vidros de baixa transmitância que retêm o calor do raio solar, garantindo conforto térmico e também melhor conservação do acervo. E a nova iluminação será controlada ponto a ponto via sistema de automação, com lâmpadas LED, que gastam menos energia e emitem menos calor.

O Jardim Francês também foi restaurado graças a um aporte de R$ 19 milhões do Governo do Estado. Haverá recuperação de toda a área construída e do paisagismo, além de novidades como  restaurante, infraestrutura para food bikes, reativação da fonte central e recuperação de duas fontes presentes no projeto original do jardim e que foram destruídas na década de 1970.

Uma das premissas do projeto do Novo Museu do Ipiranga é a inclusão. Além da acessibilidade física do edifício, que foi equipado com elevadores e rampas de acesso, haverá condições mais amplas de exploração do acervo. Entre os itens de acessibilidade estão telas táteis, maquetes tridimensionais, dispositivos olfativos, reproduções 3D e em materiais semelhantes às peças originais, como pedra e metal, cadernos em Braile, amostras de texturas e objetos adquiridos especificamente para o manuseio dos visitantes. 

Museu do Ipiranga -Saguão. Foto: Divulgação

Restauro do Acervo 

Além da reforma e ampliação do prédio, estão sendo restaurados os itens do acervo que estarão expostos na reabertura. São mais de 3 mil objetos, que incluem 122 pinturas e duas maquetes de grande porte. É a primeira vez que as coleções são objeto de um plano amplo de reparo, com diversas obras sendo restauradas ao mesmo tempo.

Quadro mais conhecido do acervo do Museu, a tela Independência ou Morte, de Pedro Américo, foi um dos primeiros trabalhos a serem restaurados, ainda em 2019. Em um processo singular, o restauro foi realizado dentro do próprio Museu, simultaneamente à reforma do edifício. Isso porque a amplitude da tela, com dimensões de 415 cm x 760 cm, não permite sua remoção, por ser maior que os vãos das portas e janelas do Salão Nobre, espaço em que está localizada. Foram necessárias técnicas e recursos especiais, como a utilização de um tecido especial que impedia por completo o contato de poeira e resíduos com a tela.

Novas Exposições

No Novo Museu do Ipiranga, o público encontrará 12 exposições: 11 de longa duração e uma mostra temporária. As de longa duração serão divididas em dois eixos temáticos: Para entender a sociedade e Para entender o Museu. A exposição de curta duração, denominada Memórias da Independência, estará aberta por quatro meses. O tema foi escolhido por estar diretamente relacionado ao ano de reabertura do Museu e ao bicentenário da Independência, e trará acervos de outras instituições brasileiras, especialmente do Rio de Janeiro e da Bahia. 

No total, serão expostos 3.058 itens pertencentes ao acervo do Museu, 509 itens de outras coleções e 76 reproduções e fac-símiles. A maior parte das obras data dos séculos 19 e 20, mas há itens mais antigos, que remontam ao Brasil colonial. São pinturas, esculturas, moedas, documentos textuais, fotografias, objetos em tecido e madeira que foram conservados e preparados para fazer parte do novo projeto expográfico. 

Outro aspecto importante das exposições diz respeito às obras que homenageiam figuras e situações controversas, como estátuas de bandeirantes e quadros que celebram a destruição de missões e populações indígenas. Haverá uma contextualização para que tais peças sejam tratadas como documentos históricos, ou seja, como obras que nos informam sobre um modo de pensar de determinados grupos sociais em um determinado período de nossa história. O objetivo será dar aos visitantes elementos necessários para que possam analisar tais criações e suas referências à história do Brasil.

As obras do Novo Museu do Ipiranga são financiadas via Lei Federal de Incentivo à Cultura e tem os seguintes patrocinadores e parceiros: BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN, EDP, EMS, Itaú, Sabesp, Santander, Banco Safra, Honda, Raízen, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler, Novelis, B3, GHT, Nortel e Dimensional, Goldman Sachs, Rede D’Or e Too Seguros.

 

 

Texto: Maria Eugênia de Menezes