Bate-papo entre egressas e calouros é destaque na Semana de Recepção

As profissionais falaram sobre suas carreiras, mercado de trabalho e aconselharam os recém-chegados no Departamento de Jornalismo e Editoração, também conhecido como CJE

Da esquerda para a direita: Lilian Fernandes, Alessandra Alves, Nathália Dimambro e Laura Bacellar. Foto: Wender Starlles/ Jornalismo Júnior

Na manhã do dia 1 de março, durante a Semana de Recepção dos Calouros da ECA-USP ( Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) aconteceu o já tradicional “Ex-CJEs Ilustres”.  O evento organizado todo ano pelas empresas juniores do Departamento de Jornalismo e Editoração, Jornalismo Júnior e Com-Arte Júnior,  tem como objetivo proporcionar uma conversa entre calouros e ex-alunos sobre o mercado de trabalho e experiências profissionais.

A edição do ano de 2018 contou com quatro convidadas: Lilian Fernandes, atual apresentadora do programa televisivo da Rede Globo Pequenas Empresas & Grandes Negócios; Alessandra Alves, comentarista de Fórmula 1 nas rádios BandNewsFM e Bandeirantes; Nathália Dimambro, editora da Seguinte, selo jovem da Companhia das Letras e Laura Bacellar, professora da Casa Educação e editora na Escreva Seu Livro. As profissionais começaram o evento falando um pouco sobre por que escolheram seus respectivos cursos e como ingressaram na Universidade de São Paulo.

Lílian relatou que conseguiu entrar na ECA quando já era mais velha, após fazer cursinho, arrumar emprego e estudar em outras Universidades “Eu não entrei quando tinha a idade de vocês. Fiz um ano de cursinho e não passei. Eu trabalhava em banco para me sustentar. O tempo foi passando, eu comecei a fazer propaganda e percebi como o jornalismo era interessante. Fui para o Rio de Janeiro, trabalhar e fazer faculdade. Voltei pra São Paulo e transferi a faculdade pra cá. Um dia saiu a notícia de que tinham 8 mil vagas ociosas na USP e que iriam ser abertas provas de transferência. Cheguei aqui, fiz a inscrição, fiz a prova e entrei. Mas era  como se eu fosse um ET. Todo mundo muito mais novo , eu grávida e trabalhava em uma emissora de televisão, que era uma coisa abominável aqui na USP”. Já a história de Alessandra é bem mais curta e com menos reviravoltas, se assemelhando a de boa parte dos estudantes de jornalismo. “Eu acho que nunca desejei tão ardentemente alguma coisa quanto entrar na ECA. Eu não fazia outra coisa que não fosse estudar. Era uma obsessão, desde os 13 anos sabia que queria fazer jornalismo e nunca tive segunda opção”.

Em seguida, foi a vez das ex-alunas de Editoração. Nathália Dimambro, formada recentemente, contou que escolheu o curso antes mesmo de saber de sua existência.Eu gostava muito de ‘dar pitaco’ nos textos dos meus colegas de escola, que sempre passavam a redação para eu revisar, e também adorava a parte artística, de capas,  e projeto gráfico. Eu ficava na dúvida entre Letras e Design. Até que um dia, eu estava na sala de estudos do meu colégio, onde ficavam vários exemplares do Guia do Estudante.Eu peguei uma das revistas e descobri o curso de Editoração. Foi bem por acaso. E, por coincidência , naquele ano, na feira de profissões do colégio, eu conversei com um aluno de editoração. Eu me interessei muito e achei que era esse o curso que eu iria fazer. Então,  sempre foi minha primeira opção”. Por último, Laura Bacellar revelou que, no seu caso, Editoração não foi a primeira alternativa que apareceu. “Entrei na década de 80 em jornalismo. Odiei. Pedi transferência para editoração. Até aquela época, ninguém tinha feito isso, tanto que o diretor veio falar comigo. Em 1985, o diploma de jornalismo valia alguma coisa e ninguém sabia o que era editoração.Mas eu não gostei de jornalismo. Eu não gosto de jornal e adoro livros”.

Foto: Wender Starlles/ Jornalismo Júnior

As convidadas, depois, comentaram sobre quais foram as suas impressões dos cursos escolhidos enquanto estudavam na USP. Para Alessandra, “O curso foi uma enorme decepção. Eu fui esperando uma coisa que não tinha nada a ver com o que a universidade podia me entregar. Achava um saco as disciplinas básicas, com assuntos sobre os quais eu tinha que ler bastante. Depois, percebi que aquilo que dá sustância, o que faz você escrever bem é a base teórica que você vai ter. Por mais que seja chato”. Nathália também teve muitas expectativas, que acabaram não se concretizando: “Quando entrei aqui, me decepcionei um pouco. Eu achava que iria ter muita coisa digital, eu era muito interessada por internet, livro digital, publicações digitais. O curso aqui na ECA é focado no livro impresso. Tem matérias que são muito importantes, que dão uma base humanística, mas a prática mesmo, mexer nos programas, como o Indesign, é aprendida na empresa júnior”

Quando chegou o momento de falar sobre suas carreiras, Lilian contou a história de como, após se candidatar para uma vaga em um programa jornalístico do SBT, recebeu e aceitou o convite para participar de uma das novelas do canal. Ela também falou da surpresa ao receber uma ligação que da equipe da Rede Globo que a levou ao seu atual emprego, “Eu achei que era trote”, disse. Alessandra destacou a importância de um currículo bem escrito para dar início na sua carreira no jornalismo esportivo “Eu estava na ECA ainda quando comecei a trabalhar na Folha de São Paulo. Saiu o anúncio ‘Procura-se Repórter de Esporte’ e eu consegui a vaga, porque a carta que eu mandei estava bem escrita O fato de você dominar a língua portuguesa já é um diferencial no mercado”. Nathália comentou sobre seu início na Com-Arte Júnior e em estágios ‘Nos dois primeiros anos aqui, me dediquei  bastante para a empresa júnior . No terceiro ano, estagiei na Biruta, uma editora pequena de livros infantis, e no quarto ano eu comecei na Cia das Letras, na época em que a editora deu início aos selos novos, que são a Seguinte, o selo jovem ,a Paralela, voltada para livros direcionados ao público feminino e a Portfólio Penguin, o selo negócios. Eles precisavam de um estagiário novo para parte editorial e eu acabei entrando. “Depois de um ano como estagiária, eu fui efetivada como editora de produção e já estou há quatro anos como editora da Seguinte”.

As ex-alunas também responderam algumas perguntas feitas pelos estudantes e os aconselharam em relação a vários assuntos: timidez, quais são os diferenciais no mercado editorial e como ir bem em uma entrevista de emprego. “Acompanhem as empresas onde vocês querem trabalhar”, disse Laura.  “É preciso mostrar que você conhece a empresa nas entrevistas de estágio”, completou Nathália. Quando indagadas sobre o atual mercado das profissões, Laura comentou sobre como o processo de publicação de livros está mais democrático, posto que, atualmente, são publicadas obras que jamais teriam espaço nas décadas anteriores. Em relação, ao mundo jornalístico, foi destacado o fato de que, conforme o que disse Alessandra, “A relação que a gente tinha com a mídia, o consumo de notícias mudou. Ninguém aqui assiste o Jornal Nacional. Vocês aqui estão no olho desse furacão. Talvez eu esteja diante de quem vai criar as novas oportunidades”

Após o término do evento, em entrevista, Alessandra Alves falou da importância da USP para a sua formação “Eu saí daqui dizendo aqui que eu estava decepcionada com o curso, porque eu acho que o curso não me deu a prática que eu imaginava, mas, em muito pouco tempo, olhando em retrospectiva, eu vi que a USP foi fundamental para a minha formação geral. Pelas leituras que me trouxe, os conceitos e as lições de dia-a-dia que eu usei depois nas redações. As matérias práticas, Agência de Notícias, Jornal do Campus, Laboratório de Rádio e Televisão não foram o suficiente para dar experiência para trabalhar, mas foi um pontapé inicial importante.” 

Texto: Nathalia Giannetti